Arte e flor

Conheça o trabalho realizado pelo Gotas de Flor com Amor, instituição sem fins lucrativos que ancora com a terapia floral e a arte-educação o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes carentes e suas famílias na zona sul de São Paulo

No meio da entrevista, ele parou de falar e fixou os olhos no céu. Expressava um sentimento que beirava o medo e chegava à curiosidade.
“Que estranho, as nuvens estão andando mais rápido hoje.” Olhei para o alto e concordei com o jovem estudante Alecsandro Tenório Cavalcante, de 12 anos.

Naquele momento, sobre a instituição Gotas de Flor com Amor, em São Paulo, as nuvens realmente estavam mais aceleradas. Alecsandro me contava que há seis anos frequenta a entidade, uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), criada na década de 1990 pela psicóloga e terapeuta floral Denise Alves Lopes Robles.

O objetivo é promover o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade por meio da arte-educação e do tratamento das emoções com os florais.

Nós temos aulas de artes, horta, informática, música, dança e tomamos floral duas vezes ao dia, quando chegamos e quando vamos embora,

conta Alecsandro.

A história do Gotas começou quando Denise passou a acompanhar uma amiga que distribuía pães a um grupo de crianças que diariamente ficava no cruzamento de duas importantes avenidas da capital paulista vendendo doces aos motoristas que paravam no semáforo.

Em vez de pão, quis ajudar de outra forma. Eu fazia a anamnese deles para descobrir seus medos e, na semana seguinte, levava os florais para tomarem. O meu objetivo, naquela época, era fazer um trabalho voluntário, ajudá-los a sair da rua, relembra.

Mas tudo mudou. Denise acabou criando, com a ajuda de parceiros, um espaço para receber as crianças. Hoje, há cinco unidades e 200 frequentadores.

Nossa missão passou a ser outra: não deixar que eles fossem para a rua, viver na rua ou se tornar pedintes. Agir preventivamente. E o floral é o eixo, o sustentáculo para eles estarem mais estruturados para receber tudo o que é ministrado no Gotas, esclarece.

Moradores de favelas e cortiços próximos à instituição, alguns dos principais problemas que enfrentam são o medo da polícia, da violência, de ratos e baratas – por causa da falta de saneamento básico – e uma grande ansiedade advinda do fato de terem que aprender a se virar sozinhos, apesar da pouca idade.

A maioria dos lares é regida pela mulher, a mãe que sustenta a família. Boa parte dos pais ou foi preso, ou abandonou a família, ou é dependente de drogas. Então, quando elas saem para trabalhar, são eles que tomam conta dos irmãos mais novos e da casa,

explica a bibliotecária Rosemary Franzoni, que há dez anos trabalha no Gotas.
Para ajudá-los a superar esses medos, um grupo de dez terapeutas florais
presta ajuda voluntária por lá fazendo atendimentos individuais.

Eles não se abrem muito, mas observando são bem agitados. Pedem algo para ficar menos ansiosos. Identificamos que o medo, a ansiedade, a tristeza, a raiva e o déficit de atenção estão entre as principais fragilidades deles,

revela Marcelle Manzano, farmacêutica e coordenadora do núcleo Terapia Floral e Terapeutas.

Mimulus, Impatiens, Walnut, Clematis e Rock Rose são os florais mais utilizados, segundo o nosso relatório de 2015. E a alegria e a calma são as grandes mudanças que percebemos no comportamento e nas emoções após o uso dos florais”,

diz Marcelle.

O empenho mostra outros inúmeros bons resultados, um dos principais é o fato de antes apenas 40% das crianças estarem na escola convencional e hoje 100% a frequentam.

Outro ponto importante: quando começamos, eles não tinham uma perspectiva de faculdade, quando muito terminavam o colegial. Agora, muitos estão fazendo ou fizeram faculdade e outros já tiveram até mesmo a chance de realizar um intercâmbio no exterior. Alguns saem empregados da faculdade por meio das parcerias que vamos fazendo com as empresas,

orgulha-se Denise.

Atualmente, no entanto, o que mais a preocupa é precisar fechar uma turma, a dos 14 aos 17 anos, devido às dificuldades financeiras. “Este é um momento de dor. Cada criança custa cerca de R$ 450 por mês. Precisamos de mais ajuda de pessoas e empresas que possam adotar a causa.”

Por outro lado, Denise conta que nos 23 anos de história da OSCIP nunca faltou um floral sequer para eles tomarem.

Todos são doados. A Healing é uma das nossas grandes parceiras. Já teve quatro incêndios na favela Piolho, perto do Gotas, onde vivem algumas das crianças, e todo o lote do composto emergencial de Bach é doado pela empresa.

No final da entrevista, Alecsandro relata-me, na fala simples e direta dos jovens, como se sente tomando os florais:

Ando mais calmo, era muito agitado.

Ilustração: Sandra Javera

Contato: Gotas de Flor com Amor – www.gotasdeflor.org.br


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