Cura histórica

As marcas da opressão feminina são mais antigas do que podemos nos lembrar e mais inconscientes do que conseguimos acessar. As essências florais de Bach hoje são indicadas não só para o equilíbrio das emoções. Elas também podem – e devem – atuar nas causas que estão por trás de grande parte dos males da alma da mulher contemporânea

O recente grito das mulheres nas ruas ecoa uma questão bem anterior ao surgimento do feminismo. “Na Idade Média, durante mais de cinco séculos centenas de milhares foram sistematicamente assassinadas”, conta a socióloga Maria Aparecida Moraes e Silva, professora da pós-graduação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). As piores perseguições, lembra a professora, foram impetradas justamente contra aquelas que faziam uso das plantas para a cura, as alquimistas que a Igreja do período batizou de bruxas.

Muitas das mulheres que ocupam hoje os sofás dos consultórios dos terapeutas florais, os alquimistas contemporâneos, apresentam queixas em grande parte ligadas à herança da opressão de gênero. É possível detectar quatro grandes grupos de sofrimentos nascidos dessa condição hereditária (veja abaixo).

Mesmo independente e bem-sucedida, a mulher sofre de medo de solidão até quando está acompanhada e sofre de desalento mesmo possuindo as ferramentas necessárias para se manter e se cuidar. É comum também identificar entre as clientes a culpa pelo sucesso e a vergonha de viver os prazeres da liberdade.

Insegurança

A insegurança é a semente da determinação. Quando vencemos a insegurança de nos vermos sem amparo, descobrimos habilidades e coragem, antes desconhecidas. Mas se permanecemos no estado
negativo, ele se torna um sentimento corrosivo, que esvai forças e cobre a visão para as oportunidades de mudança e crescimento. “Larch é um dos florais para aqueles que esperam falhar”, escreveu Dr. Bach em 1936. A terapeuta floral Wanda Pereira, de São Paulo, explica, porém, que as essências podem variar dentro de quadros semelhantes. I.N., de 32 anos, mergulhou em uma depressão depois do parto do primeiro filho. Já vivia uma crise no casamento, e acabou por se separar do marido alguns meses depois de começar a terapia. As flores que a fortaleceram para a mudança de vida foram Rock Rose, o antídoto ao terror, e Scleranthus, para casos de hesitação e dúvida. Em seguida, I.N. retomou a vida como mãe solteira e encontrou um novo amor.

Medo

Não conhece a coragem quem nunca experimentou o medo. O temor está na base de toda personalidade destemida, pois é a emoção herdada de ancestrais que tiveram de sobreviver apesar da inferioridade física a muitas das espécies com as quais disputaram alimento e território. Mas o ser contemporâneo entrega suas forças e seus sonhos para estados de medos aprendidos, que pouco têm a ver com a realidade. É o caso de H.N., uma menina de 8 anos que chegou ao consultório da terapeuta com uma fobia social incompatível com a sua idade.

“Ministrei o composto emergencial de Bach por uma semana e depois passamos a usar uma composição de Star of Bethlehem e Water Violet”,

conta Wanda, que percebeu que o medo social poderia ser fruto da relação traumática (daí a escolha de Star of Bethlehem) com a mãe, S.T., uma mulher de 43 anos repressora e exigente que se encontrava desempregada quando procurou o consultório.

Vergonha

A repressão é a mãe da vergonha. Aprendemos a sentir essa onda de repulsão por nós, essa trinca na imagem que carregamos de nós mesmos perante os outros quando somos reprimidos. O caso de S.T. revela como isso acontece. Ela educava a filha de 8 anos de forma muito rígida, repreendendo-lhe com gritos sem perceber que estava criando um trauma de repressão que afastava a menina do contato com os outros.

A criança de natureza retraída (por isso foi ministrado o floral Water Violet) estava em um ponto de se sentir inadequada perante todos. “ Water Violet ajuda a trazer de volta nosso equilíbrio para que possamos estar mais envolvidos com a humanidade”, declarou Bach. Beech, Impatiens e Vervain foram indicados para a mãe, para ajudá-la a estabelecer uma maneira mais paciente, compassiva e respeitosa no tratamento com a menina. No equilíbrio na relação das duas estava a chave para a cura da cliente mais jovem.

Culpa

A culpa nos prende ao passado. Aprender com o erro, olhando-o com atenção, é alimento para a evolução. Mas apenas sofrer com um ato equivocado é inútil e paralisante. pine foi o primeiro floral indicado por Wanda a B.X., de 26 anos, com dificuldade em deixar a primeira filha com a babá – uma velha conhecida da família, junto com a mãe e a criança desde a licença-maternidade. B.X. ansiava pela volta ao trabalho e sabia que a filha estaria em mãos confiáveis, mas se algo não corresse bem em sua ausência, como uma febre, não se perdoaria.

A terapeuta se deu conta de que poderia estar diante de um trauma antigo.
Descobriu que a cliente havia sido negligenciada após o nascimento. A Pine foram então acrescidos Honeysuckle e Star of Bethlehem (apego ao passado e trauma, respectivamente). Em menos de um mês, a cliente estava tranquila em relação a sua escolha de deixar o bebê sob os cuidados da funcionária.

Ilustrações: Sandra Javera
Contato: Wanda Pereira – wanda_pereira@yahoo.com.br

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