Meditação sem segredos
Acalmar a mente é um exercício acessível a qualquer um, ensina o professor Sandro Bosco. Significa abrir uma janela no dia para observar o mundo interior e ali encontrar um refúgio de paz e equilíbrio.
Se você acha que meditar não é para você e sim para pessoas muito calmas e centradas, está na hora de rever essa ideia. Qualquer pessoa pode se beneficiar desta prática milenar, que consiste em reservar alguns minutos do dia para se aquietar e se perceber. E, consequentemente, viver melhor.
Nas últimas décadas, a ciência tem revelado como o cérebro e o organismo respondem à prática regular da meditação. Os resultados são impressionantes. Não há dúvidas de que, além de modificar a estrutura cerebral, ela também colabora na prevenção a episódios de depressão, ansiedade, estresse e diversos desequilíbrios físicos e emocionais advindos destes estados.
Porém, como ensina Sandro Bosco com seus 40 anos de experiência em meditação e yoga, incluir momentos meditativos na sua rotina de olho nos benefícios não seria a maneira mais interessante de se aproximar da prática. Para Sandro, vale mais a gente se abrir para uma experiência de entrega livre de expectativas.
“Ao invés de pensar sobre o que você pode ganhar da meditação, pense sobre o que você pode oferecer. Afinal, meditar é muito parecido com nadar em um rio. É necessário nadar, mas é preciso acompanhar o fluxo da correnteza. É levar-se e deixar-se levar”, compara Sandro.
O observador não se identifica com os pensamentos
Claro que não é fácil se soltar do turbilhão de pensamentos que povoam nossa mente e fluir como um riacho. A maioria dos ocidentais está condicionada ao pensar compulsivo, tentando solucionar cada um de seus problemas e aflições pela racionalização. É exaustivo. Por outro lado, se você já percebeu que esse mecanismo mental é insustentável, porque drena suas energias e alegria de viver, algo auspicioso pode nascer disso.
“Quando você reclama do seu próprio excesso de pensamentos, é como se o sol começasse a amanhecer. Neste momento, você reconhece que sua mente é algo à parte e isso pode ser o início da meditação”, encoraja o professor.
Tocamos em um ponto fundamental dos ensinamentos orientais, berço da meditação. Nós não somos a nossa mente. Somos o Ser ou a Consciência que a observa. Uma realidade atemporal, imutável, anterior aos pensamentos. E só podemos experimentá-la através da prática meditativa regular. Sem constância, ela nos escapa.
“A paciência e a perseverança no exercício da meditação dão vida à consciência do observador interno”, explica Sandro. E qual seria um sinal palpável de que estamos conseguindo abrandar a agitação interna e, assim, ativar a auto-observação? “Quando a mente começa a silenciar na meditação é porque naturalmente está crescendo o intervalo entre duas respirações”, ele destaca. Isso porque, ao contrário do que nos foi ensinado no ocidente, a entidade corpo-mente é um todo indivisível.
Pois, bem. Quanto mais longo for o intervalo entre duas respirações, menos identificados estamos com os pensamentos. Portanto, mais entregues e disponíveis para a paz que podemos proporcionar a nós mesmos. Veja como a meditação pode se combinar aos Florais de Bach.
Com gentileza, sempre é possível retornar ao nosso centro
O mestre budista Thich Nhat Hanh, nascido no Vietnã e ativista pela paz, define a meditação como “um encontro sereno com a realidade”. Quem não almeja do fundo da alma encontrar esse refúgio em si mesmo e saber que, não importa o que aconteça lá fora, ele está sempre à nossa espera?
Thich Nhat Hanh ensina um exercício muito simples e efetivo que qualquer pessoa pode fazer várias vezes ao dia. Sempre que você notar que se descolou do momento presente e se emaranhou nos pensamentos, diga a si mesmo: “Cheguei. Estou em casa”. Isso nos ajuda a retornar ao nosso centro, ao estado de presença no aqui e agora.
Outro jeito de começar a meditar é prestando atenção à respiração, seja na movimentação natural do abdômen, seja na entrada e na saída do ar pelas narinas. Faça isso por cinco minutinhos, três vezes ao dia. Depois vá aumentando a duração da prática. Se preferir, foque a atenção no ponto entre as sobrancelhas. O bom é que você pode se dedicar a esses exercícios onde quer que esteja.
O mundo externo espelha a realidade interior
E, assim, caminhamos, devagar, sem grandes metas e expectativas, lembra? De tanto observar a nós mesmos em meditação, nos damos conta de que a autopercepção, bem como das outras pessoas e do mundo, espelha justamente o nosso estado interno. Portanto, se encontramos calma dentro de nós, vamos nos deparar com ela do lado de fora também. Do mesmo jeito que não existe separação entre corpo e mente, também não há divisão entre o exterior e o interior. Tudo é uma coisa só!
“Não há barulho no mundo. Não há paz no Himalaia. Ambos estão dentro de você”, ensina o mestre iogue Swami Satyananda Saraswati.
É por isso que Sandro Bosco insiste: “O caminho mais fácil para a meditação é não querer nada dela”. Basta a boa vontade de voltar a atenção para si mesmo e, a partir daí, se redescobrir como um Ser que é paz, bem e luz.
Conheça também o curso Yoga na Vida – Ensinamentos e Reflexões e as meditações para questões específicas do mundo contemporâneo como o estresse e a insônia, com Sandro Bosco.