Vivências com meditação

Entenda como você pode cuidar da mente e dos sentimentos de forma simples e acessível, valendo-se apenas do seu corpo e da sua respiração.

Curso lidando com estresse e ansiedade

Professor de yoga e meditação há 40 anos, Sandro Bosco é nosso guia na série de vivências “Meditação como Recurso Terapêutico”. A proposta desse conteúdo é aprender de forma simples como a meditação regular pode ser um recurso para lidar melhor com sete estados: ansiedade e estresse, apego, depressão, falta de confiança, insônia, mau humor e medo. Saiba mais.

A seguir, o professor Sandro Bosco esclarece por que a meditação nos ajuda a nos conhecermos melhor, a nos relacionarmos de forma mais saudável e a contribuirmos para um mundo mais pacífico e balanceado.

Como nós conseguimos chegar ao autoconhecimento por meio da meditação?

Cada um tem uma ideia, uma sensação ou até uma experiência do que seja autoconhecimento. A verdade é que todos nós já temos autoconhecimento. E a meditação revela justamente isso.

O processo da meditação é um processo com um outro alguém que nos habita. Explico melhor. Nós somos duas pessoas. Essa que se expressa na confusão dos papéis sociais e uma parte mais íntima, consciente, inclusive, desses pensamentos que orbitam, feito satélites ou mosquitos, a cabeça dos diversos papéis que a gente assume, ora de pai, ora de filho, ora de mãe, ora de filha, empregado, patrão, professor, aluno e assim por diante. Todos são transitórios, mas a gente se identifica demais com eles e com o que cada um deles carrega de conceitos, opiniões, formas de se expressar, de viver, de se relacionar. Esses papéis também carregam o orgulho, a vaidade, os temores e tantos outros vícios de personalidade que provocam guerras entre povos, entre nações, por causa de duas pessoas que se desentendem, fixadas no seu papel de líder, rei, rainha. Isso existe desde sempre na humanidade.

Como o autoconhecimento se manifesta na prática meditativa?

Na paz da observação da respiração ou nos espacinhos de paz que surgem entre os penamentos, aquela brisinha de silêncio que você começa a notar de vez em quando, ali você percebe que está existindo também e que se esqueceu daqueles papéis. É que nem quando você dorme. Por aquelas horas, você não tem nenhum papel. Quando digo que todo mundo já tem autoconhecimento é porque na Índia um dos pilares do autoconhecimento é a noção de existência, a pura verdade, “Sat”, “eu existo”. Por mais ignorante que o ser humano seja, no sentido do pouco conhecimento de si ou de tudo, ele sabe que está vivo, que existe. Esse é o primeiro aspecto do autoconhecimento. Saber que você existe. Esta é uma consciência que todos nós temos.

E como essa consciência se revela para nós?

O ser independente de todos os papéis se revela todos os dias para nós. No intervalo em que acordamos até o cérebro voltar para a vigília, para as ondas Beta, os pensamentos racionais, lógicos. Naquele momento você é puro, no sentido de uma existência que não está ligada a papéis.

A gente deveria curtir e respeitar mais esse momento. Se o sono te dá paz por que a meditação não vai te dar o mesmo? É só uma mudança de frequência de onda cerebral. É só aprender a entrar nessas frequências de onda sem precisar estar de pijama e travesseiro. Olha que simples. Recomendação: não medite de pijama nem com a cabeça no travesseiro, senão você vai dormir, vai se desconectar da consciência dessa existência. É por isso que muitas vezes depois de um relaxamento, de uma meditação, a pessoa não quer nada, não quer comer nem beber, porque ela saiu do peso que cada um dos papéis traz consigo.

Nossa, só de ouvir essas palavras já me sinto mais leve…

Temos vários papéis, mas não somos nenhum deles. Quando vamos nos desapegando disso, naturalmente é nesse lugar de desapego que vivemos tranquilos, em paz. Não nos importunando mais tanto com eles, porque são passageiros. Daí percebemos que não precisamos sofrer tanto.

Afinal, por que sofremos tanto?

A meditação é um processo de desapego dos nossos sofrimentos. Todos os mestres espirituais já falaram isso: Nós somos apegados ao sofrimento. A sabedoria milenar diz que qualquer tipo de apego traz sofrimento, mas vamos considerar o apego ao sofrimento, às dores. Quando a gente descobre isso, quer se livrar logo, porque não reconhece ou não acredita que é apegado ao sofrimento. Ou temos boas justificativas. “É, mas também você não sabe o que eu passei…”. Parabéns por você ter passado por isso. Agora, joga fora, abre a janela num dia de vento e deixa o vento levar. Aquilo já te ensinou alguma coisa. Não é preciso carregar esse fardo. A meditação amplia a visão de como a gente funciona. Que novela eu assisto todo dia na minha cabeça? Temos que mudar esse roteiro. Com a ajuda da meditação e do autoconhecimento.

Podemos, então, escrever um roteiro mais feliz se seguirmos por esse caminho?

Sem dúvida. Outro aspecto importante da meditação, que parece chavão de autoajuda, é o direito à felicidade. Mas ele vem naturalmente, devagarinho, que nem cabelo branco. Se aproveitamos bem a passagem do tempo, conseguimos ir nos desapegando de muitas coisas.

Aliás, como a meditação interfere no processo de envelhecimento?

Os cientistas já mostraram que a meditação retarda o processo de envelhecimento cerebral e físico. A quantidade de respirações que fazemos corresponde ao nosso tempo de vida. Respiramos 21.600 vezes por dia. Melhor dizendo: a respiração respira por si só. É um sopro do cosmos, da natureza, de Deus, como cada um quiser entender. Se respiramos mais do que isso, há um maior desgaste no organismo. Logo, se você consegue respirar menos, está beneficiando todo o sistema. Quando conseguimos respirar menos, ou seja, mais devagar, e recuperar a energia? Quando dormimos. No sono, precisamos de 4 a 5 horas para reduzir 2% do consumo de oxigênio. Na meditação, entre 10 a 15 minutos, reduzimos quase 8 vezes o consumo de oxigênio. Quanto mais você aprende a tranquilizar a respiração, você entra nesse baixo consumo de energia. Consequentemente, sobra energia, já que pensar consome muito desse reservatório. Os Vedas apontam duas coisas que mais adoecem o ser humano: o excesso de comida e o excesso de pensamento.

Mas, sem a prática constante da meditação, fica difícil desfrutar de todos esses benefícios, não é?

Existe um ingrediente muito importante na meditação, que não é vendido em farmácia, que é a paciência. Mas, pelo menos, você está tendo paciência com você mesmo. Vale a pena. Aí todo dia você começa a perceber um filme muito parecido das coisas com as quais você se preocupa, das coisas que te irritam. Que chata a minha mente. Ela sempre pensa as mesmas coisas. Eu não percebia que ela pensava a mesma coisa. Agora estou percebendo. É por isso que estamos lançando vivências de meditação como recursos terapêuticos. Um deles é o humor, já que muitos de nós adoecem de irritação. Ficam irritados com os outros, com o mundo, com a economia, com os vizinhos, com a cidade. Ao mesmo tempo, essas pessoas não vão morar no campo porque lá ficam irritadas com os mosquitos. Caramba, eu sou chato mesmo, como algumas pessoas me dizem. Isso é humor. Rir do seu lado chato. Então, a meditação também é uma oportunidade de cultivar o bom humor. Aprender a rir de si.

Não é de se estranhar que pessoas que meditam acabem se relacionando melhor…

Precisamos ter amente vazia para podermos escutar outra pessoa, sentir aquele ser. A meditação simplifica a mente, nos mostra como se relacionar de forma mais saudável e verdadeira. 

A gente consegue transmitir mais escutando o outro do que falando. Ser ouvido cura os outros, porque as pessoas têm uma necessidade muito maior de serem ouvidas. Aí é a sua meditação de estar inteiro ao ouvir. Em estado de presença. Essa disposição vem da tranquilidade que a meditação traz e que te leva a enxergar a pessoa que está à sua frente.

A meditação também nos ajuda a confrontar nossas dificuldades?

Claro. Uma das coisas mais difíceis de você confrontar e também uma das mais simples do mundo é sentir a sua respiração, porque na hora você sente como você está e tem que aceitar. Você começa a sentir como você mesmo funciona mental e fisicamente no ritmo da respiração. O resto passa a ser fácil confrontar. Sabe como você aprende a confrontar os grandes dilemas da sua vida? Familiarizando-se, ficando amigo, à vontade com o processo da respiração. Um dia você está de novo com aquela pessoa que traz um comportamento que é um dilema para você e você fica na frente dela, só que focada na respiração. É difícil? Pode ser. Mas, ao mesmo tempo, é muito simples, não é? Você pode colocar a mão na barriga ou no peito, a pessoa nem vai perceber, e você fica sentindo a sua respiração. Tudo aquilo que era um confronto vai se dissolver naquele momento, vai perder pelo menos 40% da sua força. Talvez ela ainda volte outro dia. Daí você foca de novo na respiração. Somos seres sociais, precisamos viver com as pessoas, precisamos delas para crescer, para nos desenvolver como ser humano.

Então, a respiração é crucial no processo meditativo…

Enfatizo a importância da respiração nos meus cursos, vivências e workshops porque ela está esquecida em nós e diretamente ligada ao coração. Coração rápido, respiração rápida, mente acelerada e, portanto, sem discernimento.

Prestar atenção na respiração é parar e se observar. Por que estou com medo? A respiração é a técnica meditativa mais antiga e ainda uma das mais simples e eficientes, não precisa de nada. Em qualquer lugar você pode trazer a consciência para ela.

E a única forma de alimentarmos a humanidade em nós é cuidar de um tempo todos os dias para observar o espaço entre cada respiração, entre cada pensamento, e a partir daí motivar os outros. Porque além do olhar, da linguagem corporal, a gente irradia uma vibração. E quando você está se recolhendo todos os dias para cuidar de si e prestar atenção naquilo que é o mais importante, o movimento da respiração – pois é só por ela que estamos aqui, enquanto ela não parou -, honre-a, dedique alguns minutos por dia para senti-la. Observe a respiração com amor, com atitude de gratidão, de respeito ou de importância. As coisas simples são as mais poderosas. O silêncio é uma qualidade de energia ainda mais poderosa.

Com que frequência podemos começar a meditar?

O importante é começar a praticar. Não importa a quantidade e sim a qualidade: 1 minuto, 3 minutos, 5 minutos. As meditações que propomos como recursos terapêuticos não são longas. A quantidade vem naturalmente. Um dia você meditou 10 minutos. Dali a um ano, 20, 25, 30 minutos. Porque você passa a achar gostoso aquele lugar. Realmente aqui é um lugar de paz e está dentro, entre os pensamentos, no espaço da consciência silenciosa. Quando você começa a meditar, você vibra isso, então as pessoas sentem, mesmo que você não fale nada, e se entusiasmam para meditar também.

Conheça também o curso ministrado por Sandro Bosco ensinamentos milenares que ainda hoje são diretrizes para uma vida em harmonia com o Universo: Yoga na Vida – Ensinamentos e Reflexões

Sandro Bosco

Iniciou seus estudos e práticas em Meditação e Yoga há 40 anos e não parou mais: segue estudando e praticando as relações mente e corpo como ferramenta para promover a saúde física e mental. Hoje, Sandro é professor de meditação, yoga e palestrante, além de autor. Além das aulas regulares e cursos de formação, tem desmistificado e traduzido esse conhecimento para públicos diversos que estão em Empresas, Hospitais e Eventos, através de palestras, workshops e vídeos. Sandro tem alguns livros publicados, entre eles: Meditação para Quem Acha que Não Consegue Meditar e Posturas Restauradoras de Yoga.

Contato

http://www.sandrobosco.com.br/

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