Pedagogia da Cooperação: por mais colaboração entre nós

Nos momentos chacoalhados por crises diversas, ficaremos mais amparados se pudermos contar uns com os outros. Felizmente, podemos aprimorar essa competência com a Pedagogia da Cooperação.

O planeta em agonia está tentando nos alertar para algo crucial: sem a consciência colaborativa, não há perspectiva de futuro para nós. Mas como resgatar essa competência se a nossa cultura nos ensinou tão bem a competir e a vencer nossos “concorrentes” ao invés de buscarmos, juntos, soluções que beneficiem a todos sem exceção? Bem, a Pedagogia da Cooperação se constituiu justamente para fomentar esse aprendizado e nos guiar na construção de um mundo mais fraternal e equilibrado. Vamos, então, aprender com ela?

Sim, ainda dá tempo de nos reformularmos, mesmo que a visão e o comportamento competitivos estejam tão arraigados em nós. Fábio Otuzi Brotto, co-fundador do Projeto Cooperação e pioneiro em Pedagogia da Cooperação no Brasil, acredita ser esta uma plataforma confiável. Como ele diz, “alçarmos um voo ainda mais potente na direção de nossa evolução enquanto comunidade humana”. Esse olhar se aplica a relações pessoais, comunidades, escolas, organizações, governos, Nações, enfim, a todo agrupamento humano que esteja em busca de um resultado, um produto, a realização de um sonho, a solução de um problema, a transformação de um conflito.

Mas, afinal, somos originalmente competitivos ou cooperativos?

Brotto entende que a nossa natureza pode tanto pender para o lado do egoísmo, da violência e do preconceito, quanto para o lado da solidariedade, da empatia e da colaboração. Afinal, todas essas possibilidades nos constituem. A questão é: Qual delas iremos alimentar momento a momento? Fazendo um balanço, ele conclui que, ao longo da evolução, a cooperação predominou. Viva! “Ela tem nos ajudado a co-criar soluções que nos ajudem a superar os desafios que, enquanto indivíduos, nós não seríamos capazes de superá-los”, pondera.

Mais do que debater o que é melhor ou pior, propõe o especialista,  devemos dirigir nossa reflexão para os efeitos de uma competição desnecessária, calcada na crença da escassez. Ou seja, de que não há recursos suficientes no planeta para garantir o bem-estar de todos. Portanto, alguns vão ter que perder para que outros possam ganhar  – o que vem gerando tanto a depredação da nossa Casa Comum quanto a deterioração das relações humanas. “Se observarmos os dias atuais e projetarmos o futuro, vamos perceber claramente que os desafios colocados no momento para a sociedade humana não poderão ser solucionados através da competição”, ele enfatiza.

Crise é sinônimo de oportunidade

Por outro lado, a cooperação traz um alento para as crises. Se enfocarmos as coisas por esse viés, veremos que os períodos de gigantesca desestabilização, como a provocada pela pandemia, não precisam ser encarados como um trauma coletivo irreversível. O mesmo vale para as crises pessoais – mas como uma grande oportunidade de mudança de paradigma. “Situações críticas intensificam para nós a oportunidade de reconhecer a necessidade da cooperação, a importância de se unir esforços, inteligências e recursos para aportar soluções que possam abraçar toda a comunidade humana”, enxerga Brotto.

Ao contrário do que os mais pragmáticos possam supor, esse modo de pensar e agir conjuntamente é dos mais potentes, pois aumenta a nossa eficiência, a qualidade da produtividade e entrega e, simultaneamente, eleva o nível de bem-estar pessoal e de felicidade coletiva. “A gente economiza recursos e evita desperdícios de tempo, energia, inteligências e sensibilidades. O retrabalho é reduzido e a nossa possibilidade de uma realização eficiente, produtiva e feliz aumenta”, afirma o pedagogo cooperativo.

Sim, temos um potencial de realização pessoal e coletiva pleno.

Mas, para que possamos aflorá-lo, precisamos perceber as pessoas com as quais convivemos e trabalhamos como parceiras e aliadas ao invés de concorrentes e adversárias. Não é do dia para a noite que isso se dará. Mas podemos encarar essa metamorfose como um exercício cotidiano de mudança de visão, de percepção e de relação. Surgiu um problema, um impasse, um conflito? Vamos nos unir para co-criarmos seja lá o que for preciso para nos levar adiante, valorizando o que cada um, com a sua singularidade, tem a oferecer em prol do todo.

É importantíssimo ressaltar que ninguém tem que se anular em nome do coletivo. Muito pelo contrário. “Toda comunidade colaborativa nasce da nossa capacidade de nos relacionar como diferentes, de sermos capazes de abraçar a diversidade em todas as suas faces. É a competência, talvez, nesse momento, mais essencial para que consigamos viver de verdade em ambientes e em comunidades cooperativos”, destaca Brotto.

Conheça os pilares da Pedagogia da Cooperação:

O que é?

A Pedagogia da Cooperação reúne uma série de abordagens intencionalmente dirigidas para promover a cultura da cooperação em todos os lugares. No Brasil, ela é o desdobramento de um conjunto de experiências, observações e estudos realizados pelo Projeto Cooperação ao longo dos últimos 30 anos.

Metodologias

Trata-se de uma grande síntese que reúne diversos processos e metodologias colaborativos. Como, por exemplo: jogos cooperativos, comunicação não-violenta, danças circulares, tecnologias de conversação colaborativa, investigação apreciativa, world café, design thinking, entre outros.

 Quatro pré-requisitos para a cooperação

  1. Desapego: Se eu quiser continuar com as minhas próprias ideias, vivendo do meu jeito, querendo que prevaleçam as estratégias que eu sempre utilizo para realizar metas, ou seja, se eu continuar apegado àquilo que eu sou e àquilo que eu tenho, material e imaterialmente falando, não é possível a cooperação existir, porque ela implica compartilhamento, troca. Isso não significa perder aquilo que eu tenho ou desvalorizar quem eu sou, e sim ter discernimento para saber neste momento, nesta situação, com esta pessoa, com este grupo, com esta comunidade, com esta organização, o que é necessário manter e o que eu posso deixar descansar, colocar de lado. Às vezes, uma ideia que funcionou muito bem num outro momento, mas que nesse não tenha tanta relevância, pode virar mais uma trava do que uma ponte para a cooperação.
  2. Integridade: preciso deixar você saber quem eu sou com tudo o que eu sou, com minhas fragilidades, dores, medos, incertezas; e também com minhas potências, conhecimentos, experiências, inteligências. Igualmente importante é permitir que o outro saiba como eu estou agora. Porque cada pessoa em cada momento está se atualizando, se manifestando de uma forma diferente. Ninguém é o mesmo a todo momento. Nós somos seres dinâmicos.
  3. Plena presença: estar inteiramente aqui com você e reconhecer a sua presença inteiramente aqui comigo no presente para poder fazer aquilo que é possível ser feito com quem está com a gente no presente. Nesses tempos de muita interface tecnológica, muitas vezes acabamos escapando da presença, seja fazendo outra coisa ao mesmo tempo, seja viajando numa ideia que nos leva para longe do aqui e agora. Por isso, atenção redobrada.
  4. Abertura para compartilhar: eu me abro para compartilhar com você aquilo que só com você neste momento é possível ser compartilhado.

Entenda por que a boa escuta pede presença.

Sete Práticas Fundamentais

  1. Fazer com-tato: ativa a competência do saber conectar-se consigo mesmo, com as pessoas que estão à nossa volta, com o ambiente onde existimos, para que, recuperando a consciência de que tudo está conectado, consigamos caminhar na direção de cuidar do bem-estar pessoal e coletivo.
  2.  Saber cuidar: estabelecer com-trato, ou seja, aprender ou recuperar a habilidade de tratar com cuidado as nossas relações.
  3. Compartilhar inquieta-ações: tudo aquilo que está dentro de mim e se eu não abrir para compartilhar com você, você não vai saber, especialmente sobre aquilo que eu não dou conta e que justifica a cooperação. Isso porque a cooperação nasce da compreensão dessa necessidade da outra pessoa. Afinal, seu eu for capaz de fazer tudo sozinho e resolver todos os problemas, para que vou me abrir para cooperar com você?
  4. Fortalecer relações de aliança e parceria: ativa a competência do saber confiar, pois não há cooperação sem confiança e vice-versa.
  5. Reunir soluções comuns: ativa a competência do saber co-criar. Uma solução genuinamente cooperativa é aquela que não é a sua nem a minha e, sim, a que fomos capazes de criar juntos. Ela nasce entre nós, por isso é importante colocar o nosso melhor na roda, mas sem querer ser melhor do que as outras pessoas.
  6. Realizar projetos de cooperação: ativa a competência do saber cultivar. Aquilo que criamos juntos, agora, colocamos no mundo da melhor forma possível para que esse fruto da co-criação cresça.
  7. Celebrar o venSer: manifestar mais autenticamente o ser que eu sou, quem eu sou em cada momento com tudo o que eu sou, com minhas forças, fraquezas, inteligências, ignorâncias, dores, amores, enfim, ser plenamente quem eu sou para melhor servir ao bem comum. Ativamos a sétima competência que é saber celebrar o que pudemos compartilhar ao longo dessa jornada para gerar ainda mais benefício para cada pessoa e todo mundo sem exceção.

Quer saber como cuidar melhor de si e dos outros? Então, veja como os Florais de Bach podem ajudar nesse aprendizado.

Fábio Otuzi Brotto

Co-fundador do Projeto Cooperação, é constantemente inspirado a cultivar as sementes do VenSer quem Se É e, ao mesmo tempo, InterSer em Comum-Unidade.

Mestre em Ciências do Esporte (UNICAMP), Bacharel em Psicologia (Universidade São Marcos) e Licenciado em Educação Física (FEFISA). Pioneiro em Jogos Cooperativos e na Pedagogia da Cooperação, no Brasil. Facilitador credenciado do “Jogo da Transformação” – InnerLinks (EUA) e Findhorn Foundation (Escócia).

Consultor empresarial com foco em organizações colaborativas, coordenador do Laboratório de Pedagogia da Cooperação e docente em Jogos Cooperativos e Pedagogia da Cooperação, em diversos cursos de pós-graduação e Extensão Universitária (UNIP/Projeto Cooperação, UNIPAZ, Gaia Education e outros).

É autor dos livros: “Jogos Cooperativos: se o importante é competir, o fundamental é cooperar”, “Jogos Cooperativos: O Jogo e o Esporte como um Exercício de Convivência”, “Jogos Cooperativos nas Organizações”. Em 2020, com uma Comum-Unidade de Coautorias, lançou “Pedagogia da Cooperação – Por um mundo onde todas as pessoas possam VenSer”.

Contatos

(11) 96333-6494

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