Onde o medo e a coragem coexistem
Onde há medo, reside também a coragem. No dia a dia, essas duas forças se revelam em nossos atos
Na quietude da noite, a fazenda revela-se como um lugar de mistérios e fragilidades. Sob a sombra de um céu escuro, os gatos se tornam sombras, e a escuridão parece abrigar tanto o medo quanto a bravura. Nesse cenário, encontramos a figura marcante de uma mulher que, apesar de aparentar fragilidade, carrega dentro de si uma força admirável. A história que se segue nos convida a explorar a resiliência e os sentimentos que permeiam aquelas noites inquietas.
À noite na fazenda não eram pardos os gatos, eram muitos, confundidos na noite que costumava vestir sua capa mais escura. Ainda fosse bordada com pontos cintilantes a escuridão ameaçava o universo das crianças.
Minha avó Margarida, toda ossos, pretensa fragilidade, chegara a essa fazenda com seus inúmeros filhos, em diferentes idades. A casa grande oferecia perigos, escura, as madeiras do assoalho abrigavam aranhas, cobras e sabe-se lá que bichos mais peçonhentos. Minha avó toda ossos, haveria de ficar ali sozinha, dia por dia, já que meu avô muito trabalhava.
Haveria muitas vezes de enfrentar as noites ainda mais assustadoras e as tempestades que lhe metiam medo e lhe faziam vestir espelhos, trancar janelas para impedir a ousadia dos raios. Havia que lidar com as crianças todas, a quem o medo acometia e ser forte o suficiente para acolhê-los, quando ela mesma era receios tantos.
Minha avó toda ossos, era medo e coragem, duas forças que andam juntas.

Mariza Ruiz é escritora, contoterapeuta e terapeuta floral.
É também autora do do livro Florais de Bach: da teoria à prática.
Instagram: @todaemocaoconta