Rock Water e o mistério da água nos florais de Bach

Rock Water é a única essência de Bach preparada sem partes das plantas. Ao mesmo tempo, ela está presente em todos os florais. Quais as qualidades e mistérios que ela agrega a cada essência?

No fim da década de 1980, estávamos visitando a ilha de Creta quando sentimos vontade de subir as montanhas para explorar a área. Estávamos hospedados perto de Chania e claro que quisemos visitar as ruínas da Civilização Minoica em Heraklion e o Palácio de Knossos. As crianças não ficaram muito impressionadas e teriam preferido brincar na praia. Mas eu quis explorar a região mais distante da costa e dos turistas. As estradas das pequenas montanhas tinham um ar misterioso e desconhecido, que não estava escrito em guias de turismo. Claro que havia olivais, áreas de pastagem para cabras e flores selvagens. Os afloramentos calcários brilhavam à luz do sol no Mediterrâneo, com contrastes brancos e azuis – como a bandeira da Grécia.

Chegamos à uma pequena vila e paramos para tomar algo. Éramos os únicos estrangeiros ali e algumas pessoas vieram nos ver e conversar com as crianças. Uma senhora que estava entre eles perguntou a nossa nacionalidade e começou a falar sobre a guerra. Em um gesto rápido ela levantou a saia e me mostrou a perna. Ela contou que foi ferida na parte interna da coxa por uma arma qualquer. Eu fiquei chocado. Fiquei pensando como um ferimento daqueles poderia ser curado fisicamente. E como ela se curou emocional e mentalmente?

Do pouco que me lembro desse episódio – recordo-me perfeitamente da imagem da perna daquela senhora, mas não de suas palavras – ela disse que foi curada com a água da fonte sagrada da vila. Alguém da região deve ter conseguido costurar e fechar a ferida, o que já era um milagre. Mas a força do espírito daquela senhora deve ter sido a principal responsável pela cura.

A ilha de Creta foi invadida em março de 1941 e os combatentes da resistência ficaram nas vilas gregas até a rendição da Alemanha em março de 1945. Não consigo imaginar o tipo de trauma que cada pessoa sofreu naquela época e nos anos seguintes. As cicatrizes na perna daquela senhora podiam ser vistas claramente, mas raramente conseguimos ver as cicatrizes internas que muitos de nós temos. E aí está a importância do poder de cura da água de uma fonte sagrada.

Devemos nos perguntar: como essa água é diferente da água da torneira ou mesmo da água dos rios? O que há em uma fonte sagrada para que a água tenha outras qualidades? É uma questão de química? Ou de física? Ou existe alguma outra propriedade de afirmação da vida que não pode ser pesada ou medida através de análises físicas?

Então o que faz com que aquela água seja sagrada? Na verdade, o planeta inteiro é sagrado. A santidade não é algo regional. Alguns lugares têm qualidades especiais que reuniram as pessoas, talvez para celebrar a vida ou a morte, ou para curá-las.

O processo ocidental de objetificação

Aqui podemos nos expressar livremente, mas na Europa Ocidental o conceito de paganismo pré-Cristianismo parece estar relacionado à descoberta de valores em todas as formas de vida. E estes mesmos valores podem ser encontrados em todos os elementos: Terra, Água, Ar e Fogo. Sabemos pouco sobre os sistemas de crenças pré-Cristianismo, embora há muito o que aprender se viajarmos para a direção leste. Na Índia, o Rio Ganges é sagrado e qualquer pessoa pode descer os degraus para mergulhar na água em Munger onde “todos os pecados são perdoados”. O costume está ligado ao Jainismo e à prática da não-violência (ahimsa) e outros costumes religiosos similares.

É importante considerar o processo ocidental de objetificação de todas as formas naturais. Talvez tenha sido assim que consideramos algumas coisas sagradas e outras apenas materialistas. Leia a história descrita no segundo capítulo do Livro de Gênesis:

19 Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todo animal do campo e toda ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome.

20 E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo animal do campo….

Ao por nomes em todas as criaturas, Adão as objetificou como diferentes e separadas de si mesmo (de fato, é por isso que, no Livro de Gênesis, Eva foi criada a partir de sua costela para ser sua companheira; ela é parte de Adão). Mas essa separação do resto das criaturas leva a uma perda da santidade, perda de significado e de entendimento. Hoje vemos rochas ou a água como seres inanimados porque são diferentes de nós e não fazem parte do vocabulário de objetos animados aos quais Adão atribuiu um nome. Ele não foi incumbido dessa tarefa de por nomes a eles; isso estava nas mãos do Criador, Deus. Então, com certeza isso faz com que sua natureza seja ainda mais Divina.

O sagrado para os pagãos

Aproximadamente no ano 600 d.C., o Papa Gregório ordenou que certos monges deveriam partir de Roma em uma viagem com a missão de converter os Anglo-Saxônicos pagãos na Inglaterra. Estes monges, guiados por Agostinho de Cantuária, tinham a missão de dominar as áreas consideradas “sagradas” pelos pagãos. Estes locais eram mais usados no meio do verão para rituais de banho e também eram considerados moradias dos deuses. Durante muito tempo os Romanos adoraram rios e fontes, então há aqui uma ligação com tradições históricas. O que mudou foi a conversão destes locais para celebrar o Cristianismo e o “único Deus verdadeiro”. Assim, em Lichfield, por exemplo, Chade se estabeleceu em 669 d.C. perto de uma nascente que ficou conhecida como o Poço de São Chade.

A Wells Cathedral foi construída em 705 d.C. Onde? No local em que havia os poços sagrados que tornaram a cidade famosa. O prédio original foi construído sobre uma fundação flutuante de troncos de amieiro já que este tipo de madeira não apodrece quando em contato com a água. É interessante notar que amieiros são sagrados para o deus Bran. [1] O que vemos aqui é uma fusão de crenças.

Ao escrever sobre mergulhar na água, Guy Underwood observou que “deve haver alguma conexão entre a localização dos monumentos antigos e a presença de água subterrânea”. [2] Underwood era especializado em Radiestesia e se dedicou a mostrar como as práticas religiosas tradicionais podem ter utilizado a água para “ler” os campos de força da região.

O entendimento destes campos de força ajuda a explicar a localização de marcos de pedra, igrejas e catedrais, e outros monumentos. Igrejas comumente têm o altar no lado leste da nave; cemitérios em igrejas também seguem a orientação leste-oeste de modo que os olhos das pessoas ali sepultadas ficassem voltados para o lado oriente e o nascer do sol. Do lado de fora da porta do lado sul geralmente há uma pia com água benta que pode ser tocada antes de entrar na igreja. E logo após entrar pela porta do lado sul está a pia batismal.

Portanto, a água tem um papel fundamental nos dois casos, sendo uma parte essencial da tradição. Como veremos adiante, uma parte do processo é a captação da energia do campo de força eletromagnético.

A influência dos campos de força magnéticos da Terra

Assim como os pontos cardeais N-S-L-O de uma bússola definem a posição física, a polaridade negativa-positiva se aplica a tudo na terra com relação à atmosfera do local. O ‘aterramento’ da descarga elétrica de relâmpagos durante tempestades ocorre milhares de vezes por dia em diferentes regiões do planeta. Mas este processo também está presente em nós, já que carregamos a tendência ao carregamento eletromagnético em nossos corpos. Alguns de nós podem levar choques ao tocar objetos metálicos. E é aí que a água tem um papel essencial, pois pode aterrar nosso corpo – por isso o costume de tocar na água dentro da pia de água benta antes de entrar na igreja. Isso traz paz e calma ao ser. E por isso o batismo na água e a unção com água adquiriram um significado sagrado.

Claro que este é um assunto extremamente complexo. Mas neste momento, a mecânica do processo importa menos do que o conceito. Podemos ver diferenças locais em termos de energia e como isso muda a maneira como vemos e sentimos a situação que estamos vivendo. Uma coisa é certa: campos de força eletromagnéticos desempenham um papel muito maior e mais importante em todas as formas de vida na terra do que pensamos ou imaginamos.

Apicultores sabem muito bem que as abelhas reagem fortemente a campos de força eletromagnéticos: ficar longe da colmeia em caso de trovoadas, não usar roupas que possam causar choques, não colocar as colmeias embaixo de cabos elétricos… Por quê? Nos dois primeiros casos, porque podem ser picados e a descarga de cabos elétricos pode desorientar o voo das abelhas. Assim como aves migratórias, as abelhas navegam usando os campos de força magnéticos da Terra.

E como isso tudo está relacionado ao mistério da água usada para preparar os florais de Bach?

O elemento água envolvido na preparação dos florais é o meio que carrega as informações. Mas as qualidades essenciais da água usada na preparação da tintura-mãe têm influência vital sobre a qualidade daquelas informações e sua transmissão das propriedades de cura das plantas. Na primeira publicação da descrição da preparação dos florais, Bach escreveu:

Uma tigela de vidro, com paredes finas, quase totalmente cheia de água pura, preferivelmente de uma nascente. Sobre esta água foi colocada uma quantidade suficiente de flores da planta de modo a cobrir a superfície por inteiro. Foi escolhido um dia sem nuvens, e as flores colhidas após terem sido expostas à luz do sol por aproximadamente duas horas…. os quatro elementos estão envolvidos nisso: a terra, que nutre a planta; o ar, que também a alimenta; o sol ou o fogo, que a capacita a transferir seu poder; e a água, para coletar e ser enriquecida com sua benéfica cura magnética.

Essa referência à água de uma nascente, a qual Bach sempre repetiu todas as vezes em que ele escreveu algo sobre a preparação dos florais, costuma ser ignorada. E as modernas formas de poluição podem modificar a pureza dessa água. Mas vamos supor que temos acesso a água limpa e pura – qual é o papel da água? Voltemos à tradição do poço sagrado. O que faz essa água ser sagrada? E o que realmente significa “sagrada”?  Nesta era de materialismo científico podemos muito bem nos perguntar.

A água de uma nascente esteve no solo, geralmente por muitos anos. No escuro, filtrada através das rochas porosas, seu estado muda de diversas formas. Podemos refletir sobre isso considerando o ciclo hidrológico. [3] Toda a dinâmica da água conforme ela se movimenta no planeta é o próprio meio de vida. [4] A água que cai das nuvens sobre o mar está num constante fluxo. Primeiro ela perde o conteúdo salgado da água do mar e sua carga elétrica muda conforme ela viaja através da atmosfera, a temperatura muda, claro, e às vezes ela cai sobre a terra em forma de chuva, granizo ou neve. E onde ela cai é uma continuação vital da história, já que ela pode correr e formar correntes e rios ou pode penetrar no solo. No solo, pode ser absorvida pelas plantas e devolvida ao ar através da transpiração. Um pouco da água do solo pode descer até o aquífero e ficar sob a terra durante muitos anos até emergir de uma nascente.

Como e onde a água emerge é um mistério. Depende muito da geologia da rocha-mãe no aquífero que transporta a água subterrânea. Não sabemos muito sobre o que acontece com ela dentro da terra. Em alguns casos ela absorve substâncias químicas solúveis na água. Pode emergir aquecida por fogo subterrâneo. Mas no caso da água de nascentes usada na preparação dos florais, a água é fria, em torno de 6-8 graus centígrados. Um fator essencial é a escuridão subterrânea, a ausência permanente de luz pela qual ela passa. O efeito que isso tem deve ter um papel essencial na mudança e deve ser importante na história de como a água de algumas nascentes se torna sagrada.

A descoberta dos 7 Auxiliares

Em 1933, Edward Bach desenvolveu Os Sete Auxiliares: remédios para pessoas com condições crônicas (relacionadas à duração) que influenciam a sua experiência de vida. O primeiro foi Gorse, para aqueles que desistem de tentar mudar; depois, veio Oak, para pessoas que lutam apesar de todas as dificuldades. Depois, veio a essência Rock Water, descrito por ele assim:

Para aqueles que são muito rigorosos em seu modo de viver; eles se negam muitas das alegrias e dos prazeres da vida porque acham que isso pode interferir em seu trabalho.

São mestres severos de si mesmos. São pessoas que desejam estar bem, fortes e ativas, e farão tudo o que puderem para se manterem dentro dessa linha de comportamento. Elas esperam ser um exemplo para os outros, que devem seguir suas ideias para então se tornarem melhores.

Ao descrever como preparar a tintura mãe, ele escreveu o seguinte:

Sabe-se, há muito tempo, que as águas de determinadas fontes e nascentes têm o poder de curar algumas pessoas e, por isso, essas fontes e nascentes tornaram-se famosas. Qualquer nascente ou fonte conhecida por seu poder de cura e que ainda esteja em seu estado natural, sem ter sido alterada pelo homem, pode ser utilizada.

O que mais isso diz sobre água sagrada?

Em termos diretos, não muito. Mas a descrição que Bach fez sobre as condições de alguém que pode se beneficiar da essência Rock Water contém algumas dicas:

São pessoas idealistas. Têm opiniões radicais sobre religião, política ou reformas.

Bem-intencionadas, desejam ver o mundo diferente e melhor, e tendem a restringir suas ações à crítica em vez de dar o exemplo.

Elas permitem que suas mentes e suas vidas sejam regidas por suas teorias.

Qualquer fracasso na tentativa de fazer com que os outros sigam suas ideias lhes traz muita infelicidade.

Elas querem planejar o mundo de acordo com suas próprias opiniões, em vez de calma e suavemente fazer sua parte no Grande Plano.

Este remédio traz muita paz e compreensão, amplia o campo de visão, fazendo ver que todas as pessoas precisam encontrar a perfeição em seu próprio caminho individual, e traz a percepção do “ser” e não do “fazer”, de sermos nós mesmos um reflexo das Grandes Coisas, e não de tentar pôr em prática nossas próprias ideias.

O remédio nos ensina que é através do exemplo que as pessoas são ajudadas e conseguem perceber a verdade, e não através dos severos métodos da Inquisição.

Ele nos ajuda a eliminar a desaprovação e traz a compreensão de que se deve permitir que todos tenham suas próprias experiências e encontrem sua própria salvação.

Talvez Bach estivesse indicando Rock Water como remédio para militância religiosa e intolerância. Esta não é uma condição inata, mas que pode ser adquirida com a experiência de vida e um desejo crescente de mudar o modo como somos e o mundo ao nosso redor. Para piorar, nos tornamos fanáticos para demonstrar a necessidade de mudar por causa da nossa própria sensação de pureza – de acordo com Bach, como se a própria pureza da água sagrada nos conduzisse da intensidade passional à aceitação.

A fluidez que a essência Rock Water resgata

Se estudarmos as descobertas de Bach, podemos explorar e explicar ao mesmo tempo a relação entre as experiências humanas e o mundo natural que habitamos e do qual fazemos parte. É por isso que ele enfatizou tanto a descrição do estado emocional ou mental de Rock Water. A rigidez do estado Rock Water é exatamente o que impede o indivíduo de ter liberdade para viver intensamente e explorar a vida. Nós impomos limites para nós mesmos. E isso é válido para todos os florais de Bach. Nós limitamos a nossa liberdade por medo, por incertezas, por sermos mentalmente inflexíveis. E o que pode nos trazer a mudança? É a suave fluidez da água. E combinamos isso às propriedades específicas que o Dr. Bach encontrou em plantas curadoras individuais. E sejamos claros: todos nós podemos ver essas qualidades e sentir seus efeitos.

Fluir através de um caminho com menos resistência é da própria natureza da água. Ela aceita “tudo o que vier”.

É uma jornada da inocência da escuridão do ventre do mundo até chegar à “luz do dia”. E aqui está a chave de tudo: é da natureza dessa água pura absorver as informações de todas as experiências novas sem distinção, sem discriminação – assim como todo recém-nascido está sedento para aprender e acumular o conhecimento que a vida traz. Ele o faz sem o preconceito de experiências passadas. O que traz a santidade não são crenças ou opiniões e sim o contrário: é a luz da inocência. Daí o conceito bíblico do Menino Jesus como o mestre, o professor. Fazendo referência a uma tradição diferente, pensemos no Hexagrama 25 do I Ching, Inocência. Confúcio fez uma observação a esse respeito: “Onde irá aquele que se afasta da inocência? A vontade e as bênçãos dos céus não acompanham seus atos.” 

Água: o veículo essencial nos florais de Bach

Então, todo o processo do ciclo hidrológico é a repetição da viagem da inocência e da experiência da escuridão até a luz. Ao usar água de uma nascente ao preparar o floral estamos trabalhando com a pureza de um novo começo. Essa é uma parte vital da qualidade dos florais de Bach na preparação da tintura-mãe. Leonardo da Vinci escreveu que a água é “o veículo da natureza”. Um veículo, por definição, é um meio de transporte.  O termo em inglês, “vehicle”, vem do Latim vehere, que significa “transportar”. A ideia essencial aqui não é a definição da linguagem ou das palavras e sim o seu significado. O que a água pode transportar? Ou, em outras palavras, há limites para aquilo que a água pode transportar? E como a água se altera por aquilo que está transportando?

Eu me lembro de ter aprendido na escola há muitos anos em Química e em Física que a água pode transportar elementos químicos. Ela pode transportar a energia térmica e correntes elétricas. Pode transportar a ressonância de sons (como os sons emitidos pelas baleias nos oceanos). E, por experiência própria, sei que pode transportar pensamentos, embora não seja fácil explicar como isso acontece. O Dr. Bach escreveu: “água para coletar e ser enriquecida com os benefícios magnéticos da cura.” [C. W. página 213]. Será que ele estava pensando nisso?

Há alguns anos, um grupo de japoneses veio visitar a Healing Herbs e fomos até Abergavenny para ver onde o Dr. Bach fez a sua primeira viagem de descobertas perto de Crickhowell em 1928. Falamos sobre a possibilidade de ele ter encontrado inspiração para Rock Water durante a sua estadia no The Swan Hotel perto do Convento de St. Mary’s. No território da igreja, ficamos perto do local onde se encontra o poço sagrado Ffynnon y Carreg.

O nome em galês significa água da pedra e provavelmente deu nome à essência Rock Water. Enquanto discutíamos toda a questão da água de nascente para preparar os florais, uma pessoa disse o que estava pensando: se usarmos água de nascente em todas as essências, então haverá algum elemento de Rock Water em cada um dos florais. Foi uma excelente observação! Se Rock Water é indicado para nos libertar de nossos preconceitos e pré-julgamentos então ele é um catalisador de mudanças em todos os outros 37 florais de Bach.

Quando se trata de florais de Bach, somos todos elos da cadeia de informações

O problema com esse assunto é que ele inunda tão rapidamente outras áreas, que fica difícil limitá-lo ou controlar o fluxo. A preparação dos florais não é um processo mecânico. Não está baseada em química simples. Na verdade, ela envolve uma gama de significados que apenas se tornam reais quando participamos da experiência. Deste modo, conseguimos perceber que todos somos elos na cadeia de comunicação entre as flores até o usuário final do floral.

Não se trata de uma transmissão direta de energia ativa, como ocorre com a eletricidade, mas sim do que foi denominado como “campo de força passivo”: informações que podem ser lidas por qualquer pessoa. Se de fato lermos o campo de força passivo então somos parte da comunicação. Este conceito pode ser melhor explicado se pensarmos em uma partitura musical [5]. A partitura sozinha não tem som ou energia ativa. Ela apenas se transforma em música quando energia for fornecida por um músico.

Neste caso, nós somos o músico. Nós somos o campo de força ativo que pode reagir ao campo de força passivo de informações. É verdade que nem todos podem ler uma partitura musical ou tocar um instrumento para fazer música. É a mesma coisa com músicas gravadas em um disco ou em um computador: precisamos ter os equipamentos corretos para ouvir. Mas todos nós podemos ‘ler’ as informações que estão em um floral de Bach se quisermos. Como? Porque todos nós, independentemente da idade ou identidade, somos capazes de entender o que pensamos e como nos sentimos. Melhor ainda: como nós vivenciamos a nossa existência.

A água, como sabemos, é a combinação de hidrogênio e oxigênio (H20). O que não sabemos é o que realmente acontece em nível molecular. Aparentemente, estes dois elementos do ar fazem e refazem ligações o tempo todo. Assim, a água, que é aparentemente estável, é fluida na forma. É uma parte da combinação misteriosa dos quatro elementos – terra, água, fogo e ar – mencionados por Bach com relação à preparação dos florais. [6] Neste momento, a ciência não tem muitas informações sobre como a água transporta informações. Mas sem dúvida, com o passar do tempo, teremos uma explicação teórica para o que vivemos na prática.

O campo de força passivo

É esta capacidade de ler e reagir ao campo de força passivo que é tão importante para entendermos como os florais de Bach atuam. Com a música, podemos usar a transmissão do som pelo ar. Contudo, também podemos “ler” o som por escrito se soubermos interpretar a linguagem. Com os florais, usamos a transmissão das informações principalmente através do elemento líquido. Mas as informações também podem ser recebidas através do toque, podem ser lidas visualmente com imagens das flores, por exemplo, ou transferidas oralmente.

No entanto, o elemento água é o veículo mais adequando e pronto para ser usado. E é por isso que o Dr. Bach, que começou a preparar homeopaticamente seus remédios recém-descobertos, desenvolveu o método solar em 1930. Dizem que Bach se inspirou a partir da imagem da luz do sol agindo sobre as gotas de orvalho que ficam nas flores ao amanhecer. [7] Isso inspirou a ideia de que aquela água carregava informações contidas na planta. Geralmente o orvalho vai desaparecendo com o calor da luz do sol pela manhã e conforme a água evapora, podemos supor que as informações que ficam na planta são transportadas, pelo menos parte delas, para o ar.

Partindo desse princípio, a transpiração das plantas deve transportar informações para o ar. Não se trata de transmissão química apenas, mas uma parte da atmosfera em si. Podemos sentir isso rapidamente se estivermos alertas. Na verdade, até usamos a palavra “atmosfera” para descrever as informações que sentimos no campo de força passivo em muitas situações. No dicionário, a palavra está descrita como “o tom ou o clima que sentimos em um local ou situação específicos”. Então as informações ou atmosfera podem mudar a maneira como pensamos, como nos sentimos e agimos em determinadas circunstâncias.  As crianças geralmente percebem quando há um clima de tensão no ar, por exemplo.

Concluindo…

Voltando agora aos poços de água sagrada, onde começamos: um aspecto do sagrado deve ser conferido por aqueles que reconhecem o lugar. A vila grega que tinha uma fonte de água sagrada resistiu apesar dos traumas da guerra. E se você já tiver visitado um poço de água sagrada você vai se lembrar de ter sentido e “lido” a atmosfera. Mas esse sentimento pode ser parte da vasta terminologia das memórias individuais.

De fato, se entrarmos nesse reino interno, podemos reconhecer como o vocabulário dos florais de Bach pode nos ajudar a mudar as nossas experiências. Claro, alguns de nós não querem mudar. Bach prontamente admitiu que para essas pessoas os florais não fariam efeito nem trariam benefícios, a não ser que elas quisessem se engajar no processo [Os Doze Curadores & Os Sete Auxiliares]. É por isso que não há químicas alternativas nos florais de Bach, apenas informações.

Então, de algum modo, o mistério da água nos florais de Bach continua. Mas, como tantas coisas que não podem ser facilmente explicadas, é uma experiência real. Nos últimos 90 anos muitas pessoas estudaram o assunto e isso mudou suas vidas. A mudança pode estar associada à saúde, mas também relacionada à visão que temos da vida. Leia os escritos do Dr. Bach e você verá como isso era essencial ao seu trabalho como médico. E para cada um de nós é uma história individual à medida que descobrimos quem somos de fato e qual é o propósito real da nossa jornada na vida.


Referências:

[1] The White Goddess. Autor: Robert Graves. Faber & Faber,1948

[2] The Pattern of the Past. Autor: Guy Underwood. Museum Press, 1968, página 11.

[3] Os remédios florais de Bach – Forma & Função, F.R.P., página 167.

[4] Na história de Gênesis sobre a origem da Babilônia, descreveram esta viagem como uma briga entre Apsu e Tiamat, entre o deus da água doce e a deusa do mar. 

[5] Antônio Cesar Ferreira, do Brasil, sugeriu essa ideia.

[6] Coletânea de Escritos de Edward Bach, FRP, página 213.

[7] Em maio, ele estava andando logo cedo pela manhã em um campo e notou que o orvalho ainda estava denso; passou pela sua mente um pensamento de que cada gota de orvalho devia conter algumas das propriedades da planta sobre a qual ela repousava; pois o calor do sol, atuando através do fluido, poderia extrair essas propriedades até que cada gota fosse magnetizada com essa força. Então Bach percebeu que, se ele conseguisse obter dessa maneira as propriedades medicinais das plantas que ele estava procurando, os remédios conteriam o completo, perfeito e puro poder das plantas…. Nora Weeks, Descobertas Médicas de Edward Bach, C W Daniel, 1940, páginas 49-51.

__________________________________________________________________________________

PALESTRA ESPECIAL
com Julian Barnard

O mistério da água nas essências florais de Bach

Com a tradução de Ruth Toledo

Palestra gravada, disponível nos nossos canais
YouTube Healing⠀
– Escute também pelo nosso canal de Podcast no Spotify Healing

Vamos refletir?

Julian Barnard, fundador e diretor da Healing Herbs, considerado uma autoridade mundial em florais de Bach, tendo escrito vários livros sobre o assunto, entre eles Os Remédios Florais de BachForma e Função e Florais de Bach e os Padrões Inscritos na Água. Julian é conferencista internacional e ativamente engajado na educação. 

tags
Para o topo