Design para transições: desenhando novos caminhos
Como estamos lidando com as transformações pessoais e do mundo?
Para o designer Roberto Straub, necessitamos de mais espaços para reflexão e diálogo, isolados por uma sociedade tecnológica, que nos empurra para a solidão. Por meio do seu trabalho, que ele chama de design para transições, ele propõe desenhar caminhos viáveis diante das transformações coletivos e individuais.
Redes sociais, fake news, guerras e ameaças, intolerância, polarização… Vivemos um momento planetário desafiador, para o qual não fomos preparados. A seu ver, como as pessoas têm lidado com essas questões que envolvem toda a sociedade?
Estamos atravessados por uma série de questões antigas e outras atuais que se tornaram mais conscientes neste século. Nos grupos dos quais faço parte, tenho visto muitas pessoas sozinhas em suas atividades profissionais e na vida pessoal, afetadas pelas questões coletivas, mas sem espaço-tempo de interlocução com seus pares. Isso faz com que internalizem esses temas e reajam como se aquilo estivesse acontecendo somente com elas. Por exemplo: nos desafios elencados na sua pergunta, a primeira reflexão seria: Qual o seu tempo de exposição à telas? Você precisa consumir notícias mundiais diariamente? Para a maioria de nós, o contexto cotidiano não é o planeta como um todo. O primeiro passo então é discernir quais dessas questões globais nos tocam pessoalmente e em quais podemos intervir ou contribuir com alguma forma de ação.
Nesse sentido, o que um grupo pode proporcionar?
Questões coletivas precisam de interlocução coletiva, em grupos de conversas com amplo espaço de escuta. Trocar ideias com pessoas que estão num mesmo contexto pode trazer perspectivas não consideradas antes. Quantas mães solo estão tentando descobrir saídas para as pressões diárias sozinhas? Quantas pessoas entram na terceira idade sem um novo propósito?
Diferente do trabalho terapêutico, o design para transições parte da premissa do desenho, da experimentação de novas ideias e caminhos possíveis para um determinado contexto. Tudo que não faz parte do mundo natural foi desenhado pelo ser humano. A atitude de design é uma atitude criativa diante dos desafios. É diferente de focar em um problema pessoal a ser resolvido. Outro ponto é perceber-se em transição, em movimento contínuo, o que é próprio do pensamento sistêmico diante de questões complexas. O viável diante disso é ponderarmos quais as opções que temos e definirmos o que é possível naquele momento dentro dos recursos que temos. E isso é mais difícil de pensar e conseguir sozinho.
E o que você chama de questões sistêmicas?
Questões sistêmicas são aquelas que nos afetam coletivamente, e existem vários recortes para percebê-las: regionais, culturais, raciais, de gênero, de escolaridade, acesso a direitos básicos, e por aí vai. As questões coletivas são complexas e não tem solução individual, nem única, nem definitiva. A resolução total é uma fantasia que não se sustenta na prática, e é a promessa simplista dos que propõe soluções para alguns em detrimento de outros. Ou dos que priorizam um aspecto da própria vida em detrimento de outros. Em qualquer escolha sistêmica haverá ganhos e perdas, e é essa complexidade que culturalmente tendemos a evitar.
Não fomos educados para interagir com ela. E ao buscar essa educação já adulto existe o desafio de como transformar o seu mindset de uma vida toda. Ao mesmo tempo, estudar pensamento sistêmico apenas através de cursos é uma contradição, porque a assimilação se dá na prática. Além disso existem muitos conteúdos avançados nessa área e poucos introdutórios, o que só reforça o rechaço à complexidade. Meu entendimento é de que cada um precisa definir qual é a sua parte nos contextos que habita.
E como se desenrola o seu trabalho?
O trabalho acontece a dois, em pequenos grupos, workshops e em grupos de apoio profissional. Em primeiro lugar através do diálogo, da escuta, do espaço de interlocução para os participantes e do compartilhamento de suas histórias. Isto é essencial para a metabolização dessas questões coletivas.
Daí trago dinâmicas curtas, podemos chamar de provocações, para que cada participante perceba como está se relacionando com os sistemas que faz parte. Trazer o foco para dentro e olhar com novo discernimento para a complexidade externa que tantas vezes oprime. A partir daí vamos trocando e caminhando juntos, seguindo o fluxo dos assuntos que emergem dos próprios encontros.
Para quem é indicado?
Para pessoas que procuram novas formas de agir e interagir nos ambientes reais e virtuais com que convivem. Também para pessoas que estão em transição de foco profissional, ou mesmo de ciclos de vida, como na chegada dos filhos ou da aposentadoria. Em fases de transição é natural aumentar nosso nível de estresse e muitas vezes nos isolamos, ou simplesmente travamos. Dentro de um espaço estruturado para explorar possibilidades, uma pessoa pode imaginar cenários diferentes num ambiente seguro e com suporte profissional e do próprio grupo.
De onde veio a inspiração para criar este trabalho?
Tenho uma longa experiência com pesquisas qualitativas de mercado, sempre encantado com as histórias e trajetórias das pessoas, de onde vêm e para onde vão. Há mais de 20 anos pesquiso e trabalho com os temas relacionados às escolhas profissionais e às transições de ciclos de vida. Desde 2018, me aproximei de pessoas que olham o mundo de um ponto de vista coletivo, e não aquele das histórias de sucesso individual que me inspiravam antes. Durante a pandemia essa necessidade de transferir o foco profissional para o coletivo se intensificou, não apenas para mim.
Recentemente ouvi um podcast que trouxe uma provocação interessante a esse respeito:
“Qual o aspecto coletivo da minha experiência individual?”
Essa pergunta tão simples nos tira imediatamente do âmbito onde, por exemplo, não enxergamos a ancestralidade cultural moldando as atitudes das pessoas que nos afetam. Quantos de nós tem pais machistas e mães sobrecarregadas? Quantos fazem parte de modos de trabalho exaustivos que consomem tempo e energia vital?
Nada disso é somente individual, mas como alguém que ouviu histórias a vida toda, posso afirmar que muitas pessoas contam suas histórias de uma perspectiva solitária, sem perceber ou citar o que isso tem em comum com os outros em seu entorno. E ainda acrescento que nos tempos atuais de instagramar a própria narrativa, muitos ocultam em seus contos pessoais justamente os aspectos desafiadores dos quais se envergonham coletivamente.
E quais são as tangências que você percebe com os florais no seu trabalho?
Vejo um campo muito grande de integração do design para transições com os florais, pois a maior parte das questões coletivas desperta emoções que muitas vezes são lidas apenas pelo viés da biografia pessoal e familiar de cada um. Sempre me chamou a atenção que os estados positivos indicados por Bach para cada floral são também estados de consciência de conexão com a natureza, de sermos parte de um todo maior. E nesse sentido, trazermos as conversas para essa dimensão grupal e coletiva é também pensarmos em nosso bem-estar juntos, pensarmos nas ações possíveis que podemos criar juntos.
Roberto Straub é arquiteto, designer de interações e pesquisas de mercado e designer para transições.
Entre em contato para experimentar as dinâmicas e saber dos grupos em andamento:
Linkedin / Instagram @robertostraub
Whatsapp 11 999957933