Mindful eating: Nutridos com Presença

Para estar, de fato, inteiro nas refeições, é preciso atenção, abertura, curiosidade e gentileza. Saiba como esse método refina nossa relação com os alimentos, o corpo e a vida.

Mindful Eating

“Coma devagar senão terá dor de estômago!”. Quem nunca ouviu isso na infância? Na cultura da pressa, crescemos engolindo a comida para retomarmos o quanto antes nossas tarefas, não é mesmo? Pois saiba que existe um jeito mais consciente e harmonioso de nos relacionarmos com os alimentos. Ele se chama Mindful eating.

A técnica deriva do Mindfulness, a prática da atenção plena, e nos ajuda a refinar a percepção acerca da maneira como nos nutrimos e lidamos com essa necessidade primordial para a saúde.

Como a nutricionista, instrutora de Mindfulness e especialista em Mindful eating, Vera Lúcia Morais Antonio de Salvo, observa, nossos hábitos alimentares escancaram muitas coisas sobre nós. Portanto, são uma via de autodescoberta, aprimoramento e bem viver, como você verá, a seguir:

O que é Mindful eating?

Mindful eating pode ser definido de diferentes formas, mas podemos dizer que é comer com atenção/consciência plena; a consciência alimentar baseada em Mindfulness, ou seja, a possibilidade de sairmos do automático, estarmos presentes no momento de comer, com uma postura aberta, curiosa, gentil, não julgadora frente ao alimento ou mesmo ao corpo. Uma abordagem não dieta, não restritiva. Poder notar tudo o que o alimento desperta em nós, pensamentos, sentimentos/emoções e sensações corporais. Mindful eating é uma ramificação de Mindfulness, traduzido como atenção plena, ou “a consciência que emerge do prestar atenção, intencionalmente, ao presente momento, sem julgamento”, nas palavras de Jon Kabat Zinn, criador do método.

Onde ele surgiu?

Os primeiros estudos de Mindful eating surgiram no final da década de 1990 com as publicações da profa. Jean Kristeller; professora emérita da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. Em 10 anos temos aproximadamente 500 publicações, das quais, mais de 100 no último ano.

Quais são os principais fundamentos do método?

Mindful eating está baseado em Mindfulness e este, por sua vez, ancorado em três pilares: a intenção, a atenção e a atitude. Assim, precisamos ter a intenção de estarmos atentos, dedicar atenção ao que vamos comer, mas não qualquer atenção. A atenção vem acompanhada de uma atitude de abertura, curiosidade sobre a experiência e não julgamento. Esse treino de atenção pode nos permitir maior conexão com nossos sinais internos, de fome e saciedade, a fim de respeitarmos o corpo e seus limites.

Há um passo a passo para se incluir o Mindful eating na rotina de forma consistente? 

Não exatamente, mas é possível incorporar algumas práticas informais, ou seja, aquelas que se encaixam no dia a dia, a fim de tornar essa forma mais consciente em nos alimentarmos algo mais orgânico, natural. Por exemplo, saborear o alimento com todos os sentidos, identificar o que te distrai e também seus gatilhos para comer, tais quais: família, estresse, raiva, tédio etc.

Quais são os benefícios desse modo de se relacionar com o alimento? 

A partir desse olhar é possível respeitar melhor as necessidades do corpo, identificar o melhor momento de começar e parar de comer, bem como o melhor intervalo entre as refeições e o número de refeições mais adequado (cada pessoa tem uma necessidade). Não é padronizado. É, sim, uma grande oportunidade de cultivar a presença de forma lúdica e percorrer um caminho de autocuidado e autoconhecimento.

Em geral, o que leva as pessoas a repensarem a relação com o que comem e passarem a se cuidar com carinho e dedicação? 

Para que qualquer mudança se inicie é necessário perceber o lugar ou os lugares que o alimento ocupa em nossa vida (distração, recompensa, punição etc). Muitas vezes, a decisão de querer mudar a relação com o alimento vem pela dor, por inúmeras tentativas frustradas e muito sofrimento. Destaca-se o cansaço de fazer inúmeras dietas que mantêm uma relação de medo e ameaça perante a comida.

Os aprendizados acabam transbordando para outras áreas da vida?

Com certeza, a alimentação é um tema transversal, de saúde e educação. Assim, a partir dela, é possível compreender nossos padrões, como nos relacionamos conosco, com os outros e com a vida.

O que nossos hábitos alimentares revelam sobre nós? 

Um hábito se forma a partir da repetição. Os hábitos alimentares são influenciados por vários fatores: sociais, econômicos, culturais, familiares etc. Uma vez que comer é a relação mais íntima e antiga que temos, desde o ventre materno, nossas escolhas e a maneira como comemos revelam muito sobre quem somos: ansiosos, estressados, tranquilos, cuidadosos, relapsos etc. Nossas escolhas são nossas ou seguimos os padrões, regras impostas?

Por que, às vezes, é tão difícil saber se estamos com fome de verdade, precisando daquele alimento, ou se é gula, carência afetiva ou ansiedade?

Sinais físicos de fome, por exemplo, podem ser confundidos com as borboletas no estômago por um estado emocional. Estamos desconectados de nós mesmos. Nossa percepção sobre pensamentos, sentimentos, sensações está bastante prejudicada. Por essa razão, confundimos fome com sede, sono com fome etc. Além disso, é natural que, vez ou outra, queiramos ingerir um alimento não por fome, mas por vontade de comer. Isso acontece porque a comida também ocupa outros espaços em nossa vida; ela é companhia, distração, prazer, alívio. Para perceber o que se passa conosco precisamos de Mindfulness, prática da atenção plena que vai alterando nossas estruturas cerebrais e nos permitindo perceber, enxergar as coisas como elas de fato são.

Que sinais o corpo e a mente dão quando se está verdadeiramente nutrido?

A saciedade se dá de várias formas, pelo estômago, razoavelmente preenchido; pelo nosso corpo, quando com glicemia adequada, ele tem energia; pelo gosto, sabor dos alimentos. Às vezes, já estamos nutridos, o estômago está razoavelmente preenchido, mas ainda falta algo. O corpo demora uns15 a 20 minutos para receber a mensagem do cérebro que já está suficiente e, na reatividade, no automatismo, tendemos a comer mais que o necessário.

Como tornar o Mindful eating atrativo para as crianças?

As crianças, especialmente as menores, menos influenciadas pelas mídias, pelo saber externo, se ancoram naturalmente na sabedoria interna, instintiva, que permite que se autorregulem, às vezes, melhor que os adultos. Elas param quando estão satisfeitas, como acontece com os animais de estimação. Mindful eating é algo natural e apresentado de forma lúdica para as crianças com os alimentos do dia a dia, dando oportunidade para a exploração.

Gostou do assunto? Então, saiba como a terapia floral pode equilibrar as emoções que nos levam a comer demais ou de menos.

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Vera Lúcia Morais Antonio de Salvo

Pós-doutora nos temas Mindfulness e Mindful eating – Depto de Medicina Preventiva – UNIFESP/EPM, docente do ensino superior desde 1995.

Instrutora de Mindfulness, Mindful Eating e Desenvolvimento da Compaixão Baseado em Mindfulness e member of Center for Mindful Eating (TCME) e da American Mindfulness Research Association (AMRA).

Nutricionista com especialização em Nutrição Clínica e Teorias e Técnicas para cuidados integrativos.

Contato

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desalvo@terra.com.br

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