A sabedoria da compaixão
Quais caminhos nos levam a abraçar a terapia floral?
No fluxo do tempo, as memórias que moldam nossa compreensão do mundo permanecem vivas, especialmente aquelas que nos ensinam a olhar além das aparências. Neste relato tocante, Mariza Ruiz, contoterapeuta, escritora e terapeuta floral, compartilha a profunda influência que sua avó exerceu sobre sua formação emocional e ética. Por meio de histórias que revelam as complexidades da condição humana, a avó se torna não apenas uma contadora de casos, mas uma verdadeira mestra da compaixão. Através de suas lições sobre respeito e não julgamento, Mariza reflete sobre como esses ensinamentos a guiaram em sua jornada como terapeuta, reforçando a importância de acolher as histórias alheias com empatia e compreensão.
Aprendi a respeitar as pessoas com minha avó. Ela conversava comigo sobre coisas muitas, muitas delas não condizentes com minha idade. Era uma contadora de casos, casos da vida real. Eu, bem menina, talvez não estivesse apta para ouvir sobre as mazelas humanas, mas a forma de contar de minha avó talvez tenha me salvado. Por mais triste que fosse a estória, por mais estranho que fosse o comportamento dos personagens, digamos assim, minha avó não os criticava, nem julgava, havia uma razão para que as pessos agissem, ela me dizia. Não existem vítimas nem carrascos, existe a infelicidade humana da qual muitas vezes as pessoas não sabem se livrar. Contou-me certa vez sobre uma vizinha casada com um homem mais velho. Linda mulher que tinha duas filhas também lindas. Uma delas arrumou um namorado e estava para ficar noiva. Namorado e mãe se apaixonaram e fugiram. A noiva minguou, todos na casa minguaram. O marido virou um trapo. A outra irmã foi-se para longe e não voltou mais. Lembro-me que identifiquei de imediato o homem que se sentava em uma cadeira que dava para a rua, parecendo alheio a tudo. Lembrei-me das plantas mal-cuidadas do jardim e da moça loira que parecia alquebrada apesar da pouca idade. Imediatamente emiti minha opinião que era a de que a mulher que fugira com o noivo da filha não merecia perdão. Minha avó me olhou com aqueles olhos verdes imitando folhas escuras e balançou a cabeça. Pense, minha neta, ela disse, como podemos julgar essa mulher sem saber em que estado emocional ela se encontrava. Como podemos julgar quem quer que seja. A paixão minha neta, você há de senti-la um dia e espero que seja benigna, pode levar pessoas a perderem juízo. Não sabemos o que invadiu aquela mulher para que tenha cometido um ato tão difícil. Não sabemos nada sobre o coração dos outros. Melhor então, não julgar. Melhor termos compaixão, até porque não sabemos que atos podemos cometer em nossas vidas.
Esta foi uma das estórias. Vieram muitas, pois a vida, a vida está lotada de estórias. Vovó me ensinou a ter cuidado para não tomarmos partido tão facilmente. A olhar as pessoas com compaixão, pois somos mesmo dignos de compaixão, já que o viver, é algo sobre o qual não temos total controle. Então, dizia ela, por que razão haveremos de nos tornar juízes uns dos outros?
Muitos anos se passaram, minha avó faz tempo partiu. Hoje, avó, também, envelhecendo, agradeço seus ensinamentos. Sou uma terapeuta humana, acolhedora e compassiva. Nenhuma estória por mais difícil que seja provoca em mim crítica ou julgamento, mesmo porque quando algo similar ameaça vir à minha cabeça, me lembro de minha avó.
Ela entendia de emoções e as respeitava. Não conhecia os florais, mas entendia que as pessoas agiam por não estarem em contato consigo mesmas. Eu sou uma facilitadora que ajuda as pessoas a entenderem suas emoções e a buscarem o caminho que suas almas pedem. Entendo que através dos Florais de Bach com os quais trabalho, não há nada que não possa ser reparado, por pior que pareça, entendo também que o acolhimento é um instrumento de grande valia e, o não julgamento, é algo extremamente necessário.
Mariza Ruiz é escritora, contoterapeuta e terapeuta floral.
É também autora do do livro Florais de Bach: da teoria à prática.