Florais: suporte que atenua o estresse dos professores

Um estudo recém-divulgado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) aponta que as essências florais auxiliam os docentes a lidarem melhor com o dia a dia estressante da profissão.

Quem diz sim à vocação de professor no Brasil sabe que, infelizmente, encontrará pedras pelo caminho. Baixos salários, violência, condições de trabalho precárias e, mais recentemente, o ensino online imposto pela pandemia do coronavírus. Nesse cenário, o estresse se alastra com facilidade, prejudicando a saúde como um todo e, consequentemente, a relação com a comunidade escolar.

Atenta à essa realidade, a Prof. Dr.ª Rogelia Herculano Pinto investigou como os Florais de Bach poderiam auxiliar esses profissionais. O estudo originou sua tese de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), intitulada: Efeito da Terapia Floral no Estresse Docente: Ensaio Clínico Randomizado. A seguir, ela explica as bases e os achados da sua pesquisa, realizada num município próximo ao Recife.

O que a levou a estudar a relação entre a Terapia Floral e o estresse docente?

Sou docente da rede pública de ensino. Minha mãe e minha avó também foram professoras da rede pública de ensino e sempre observei o estresse contínuo ao qual essa classe trabalhadora estava submetida. Fiz o curso de terapia floral e ele foi essencial para lidar com o estresse de ser mãe, professora e aluna de doutorado. Assim, foi como juntar 2 + 2, comecei a estudar o estresse docente e o quanto essa profissão não recebe cuidados. Essa foi a forma que encontrei de devolver a eles e às minhas ancestrais toda dedicação e cuidado recebidos.

Quais sãos os principais fatores causadores de estresse no dia a dia dos educadores brasileiros?

Atualmente, sem sombra de dúvida é a pandemia que vivemos, essa mudança radical do ensino presencial para o online, principalmente motivado pelo modelo produtivista que recaiu sobre a educação. Mas, até pouco tempo antes disso tudo acontecer, a área foi forçada a entrar num modelo produtivista e isso mudou muito a percepção de Educação. Com isso, o professor, hoje, convive com muitos outros fatores estressantes, tais como: baixos salários, forçando-os a ter mais de um emprego, conviver com a violência nas escolas, principalmente os que ensinam nas escolas localizadas em regiões mais pobres.

Qual é a queixa predominante na fala dos professores da rede básica de ensino avaliados pelo estudo?

A frustração de não poder se dedicar a apenas uma escola e as condições em que as crianças vivem. Tive uma professora, que não parava de se sentir culpada, porque um de seus alunos veio a falecer de pneumonia e ela se cobrava por não ter ela mesma levado a criança ao hospital. A gente pensa que o professor reclamaria principalmente do salário e das más condições que ainda existem em algumas escolas públicas do nosso país. Mas, não! Era a falta de esperança existente no futuro daqueles jovens, não por eles, mas pela realidade de oportunidade.

Pode falar um pouco sobre a metodologia empregada?

Trata-se de um ensaio clínico controlado, randomizado, duplo-cego, com delineamento prospectivo. Foram utilizados na coleta de dados um formulário validado à luz da teoria de Betty Neuman (modelo teórico de sistemas abertos que favorece a compreensão dos estressores intra, inter e extrapessoais) e três instrumentos, um na perspectiva perceptiva (PSS-14), o outro na prevalência dos sinais e sintomas (LSS) e um de avaliação dos aspectos bioeletrográfico (FAAB). A amostra foi constituída de 27 professores da rede básica de ensino com estresse médio e alto, distribuídos em dois grupos: intervenção (GI) e que recebeu floral e placebo (GP).

Quais essências florais foram utilizadas no estudo e qual o critério dessa escolha?

Não houve um grupo específico de essências elencadas, seguimos as orientações do Dr. Edward Bach, procuramos a causa e demos a essência correspondente. Então, cada encontro era específico, cada professor recebeu seu próprio buquê de flores.

Por quanto tempo elas foram ministradas, com qual frequência e dosagem?

O recorte foi de 3 meses, mas todos os professores receberam o cuidado até sua alta. Todos foram orientados a tomarem quatro gotas, quatro vezes ao dia, por 21 dias, o que seria o retorno.

De quais formas essas essências auxiliaram os profissionais a lidarem melhor com o estresse?

Foi observada, primeiramente, convergência da percepção com o que ele realmente estava sentindo, depois as emoções negativas iam se tornando mais positivas, o que fazia com que a tomada de decisões se tornasse mais assertiva. E, com isso, a redução dos níveis de estresse.

Quais sintomas tiveram significativa melhora?

Esses dados ainda não foram estatisticamente analisados. A pesquisa foi grande e com um banco de dados extenso. No entanto, foi observada uma melhora na irritação, na tensão muscular, na qualidade do sono, no medo e nos sintomas estomacais. Esses dados logo serão analisados e publicados com maior precisão.

Por que é tão comum o profissional ligado ao cuidado dos outros se esquecer de cuidar de si mesmo?

Uma boa pergunta. Este indivíduo tem o outro como prioridade e sua responsabilidade e esquece de si, de que, quando ele se cuida, pode melhor cuidar do outro. Conheça o Projeto Cura-te a Ti Mesmo, que tem a Prof. Dr.ª Rogelia Herculano Pinto como uma das coordenadoras e que capacita profissionais da saúde do SUS a desenvolverem o autocuidado com o auxílio dos Florais de Bach.

Como as Práticas Integrativas e Complementares podem contribuir para o despertar da importância do autocuidado?

As PICS possuem em uma de suas características o autocuidado como uma forma de amor. Não há como cuidar do outro sem antes estar bem, pois só posso amar quando me amo em primeiro lugar. Aprenda a cultivar o amor por si mesmo.

Além do uso de florais, quais outros hábitos podem se somar ao combate do estresse?

Eu digo que os florais respondem a essa questão. Quando o indivíduo toma os florais, ele começa a se conhecer, a olhar para suas emoções e como reage a elas. Isso faz com que busque caminhos mais saudáveis para si. O indivíduo começa a tomar o floral, por exemplo, e percebe que seus pensamentos são muitos, e isso o deixa com medo de perder o controle, aí ele começa a fazer meditação e yoga (Conheça os cursos da Plataforma Healing Meditação para Todos e Yoga na Vida: Ensinamentos e Reflexões), a dormir melhor. Enfim, começa a tomar decisões melhores.

O estresse não deve ser combatido, pois é uma reação do nosso corpo ao ambiente; é o nosso sistema de defesa, necessário para a sobrevivência. O que devemos entender é que permanecer em um ambiente ameaçador (seja ele intra, extra ou interpessoal) é o que desgasta o corpo e leva ao adoecimento, à exaustão do sistema e seu colapso.

Pode nos contar alguns relatos de professores após sentirem os benefícios dos florais em seu dia a dia?

Posso sim. Aqui não vou usar a fala deles especificamente, pois este também é um artigo que está sendo finalizado. Mas vou lhe relatar dois casos. A primeira coisa a ser notada é a mudança do comportamento. No primeiro encontro, o indivíduo está exausto, triste, autoestima baixa. A fala é cansada, sem esperanças. No segundo encontro, o indivíduo entra pela porta de cabeça erguida, arrumada (o), com um sorriso no rosto e relatando os mesmos problemas, no entanto a percepção dele(a) mudou e já vai apresentando novas decisões, novo olhar e isso faz toda a diferença. É essa chave que os florais trocam, do negativo para o positivo, o que, muitas vezes, o indivíduo não sabe expressar com palavras, mas com gestos, com energia. E uma professora, que não percebia que já estava tão, mas tão grave, que chegou a xingar os alunos, explodia por qualquer coisa, me disse: – Nossa! Eu estava tão ruim, mas tão ruim, que fiquei com vergonha quando percebi. Como eu podia gritar com um aluno? Ao perceber que estava à flor da pele, ela mudou, e voltou a ser a professora paciente com os pequeninos.

Nesse momento em que tantos educadores estão sobrecarregados, lecionando à distância em meio aos afazeres domésticos, tendo que lidar com suas próprias angústias, somadas às angústias dos alunos e de seus pais, o que você gostaria de dizer a esses professores?

Que não somos perfeitos, que devemos respeitar nossos limites, que a exigência vai além da capacidade humana. E que estão fazendo um lindo trabalho!

Acesse o artigo científico no link abaixo:

Rogelia Herculano Pinto

Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Doutora em Enfermagem. Especialista em Acupuntura, Mestre em Reiki e Terapeuta Floral.

Atualmente, atua como docente da disciplina de PICS do curso de Enfermagem e de Saúde Coletiva do CAV-UFPE e coordena o Laboratório de Práticas Integrativas e da Saúde – LAPICS.

Conheça outro estudo que avaliou a aplicação da Terapia Floral em indivíduos com estresse.

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