Mandalas, arte e autoconhecimento

As mandalas, tradição de várias culturas milenares, é uma arte que nos convida a olhar para dentro de nós mesmos como um caminho na busca pelo equilíbrio mental e emocional

Nessa entrevista, a terapeuta floral Lucy Godoy fala sobre um projeto que leva as mandalas, uma arte milenar, às salas de aula de colégios brasileiros para ensinar aos alunos um olhar mais profundo sobre si mesmo.

Qual a origem das mandalas? O que elas têm a nos ensinar?

“Mandala” é uma palavra do idioma usado na Índia, o sânscrito, que significa “círculo”. Se buscarmos em outras culturas e idiomas, encontraremos ainda “círculo de cura”, “roda”, “centro”, “pensamento contido dentro de um círculo”, “coroa”, “anel” e outros.  Desde os primórdios da Criação, a forma circular da mandala é encontrada nas várias culturas ao redor do mundo. Nas cavernas pré-históricas foram achados desenhos de figuras circulares e espirais gravados nas rochas. Acredita-se que a adoração dos primeiros habitantes do planeta Terra pelos elementos da Natureza, como os círculos do sol e da lua, se transformou em rituais sagrados que se perpetuaram no tempo. As mandalas nos ensinam a olhar para dentro de nós mesmos, a encontrarmos o equilíbrio vivencial perdido e restabelecê-lo.

Como surgiu o seu interesse pelas mandalas?

Em um dia de muito calor na Espanha, minha neta de sete aninhos me chamou para brincar. Brincamos a manhã toda, e eu já havia esgotado todos os jogos e brincadeiras que sabia, quando ela sugeriu “Vamos pintar mandalas, vovó!”. Eu adorei a ideia e me senti de volta aos bancos escolares, às minhas aulas de desenho, quando fazia e pintava rosetas. Durante minha estada na Espanha, fiz cursos sobre florais de Bach, pois a Catalunha tem um trabalho magnífico nessa área. Conversando com outro terapeuta floral, falei sobre as mandalas e ele me levou até uma psicóloga amiga dele que trabalhava com a Mandala Terapêutica. Retomei aí minha amizade com as mandalas.

De onde partiu a ideia para a criação do Projeto “Arteiros fazendo arte na sala de aula”?

O projeto Mandala Pedagógica foi desenvolvido na França pela pedagoga Marie Prè e posteriormente divulgado em vários países ao redor do mundo. Tomei conhecimento sobre esta prática em 2008, quando estive em Barcelona, e fiquei muito interessada pelas respostas que o trabalho com mandalas apresentava em crianças em idade escolar. Além disso, os resultados altamente satisfatórios de centramento e autoconhecimento que as mandalas traziam aos hospitais, residências geriátricas e consultórios psicológicos também me chamaram muita atenção. Assim, embasada nas propostas de Marie Prè, criei o Projeto “Arteiros fazendo arte na sala de aula”, com adaptações para a realidade brasileira.

Que tipo de retorno pode ser percebido nas crianças?

Temos depoimentos de professores que trabalharam com mandalas em suas classes com resultados altamente satisfatórios no que diz respeito à disciplina em sala de aula, ao foco em questionamentos, à racionalidade em perguntas antes desconexas. Enfim, mudanças consideráveis.

Qual a melhor forma para se trabalhar com mandalas?

Em nossa proposta tanto pedagógica como terapêutica seguimos uma sequência: começamos pintando uma mandala já traçada, depois completamos uma mandala iniciada e finalmente criamos nossa própria mandala, que chamamos de mandala pessoal. Podemos também tecer mandalas com resultados muito bons.

Existem cores e composições específicas para ajudar a influenciar estados de ânimo? Ou a elaboração da mandala deve ser intuitiva?

O desenho de nossa mandala pessoal vai desenterrar do inconsciente histórias que muitas vezes escondemos para não sofrer. Na leitura de formas e cores e números o terapeuta irá interpretar o que o desenho mostra.  Daí inicia-se o processo conjunto de descobertas, com cliente e terapeuta ou paciente e psicólogo trabalhando juntos para chegar a um final equilibrado de emoções.

Você tem algum caso interessante para nos contar?

Em 2012, realizei um trabalho com mandalas aplicado em residência geriátrica, em São Paulo. Havia uma senhora que não queria participar, mas sua cuidadora a levou carinhosamente para a mesa e ela sentou-se calada, como sempre fazia. Lembro-me que o desenho que ela escolheu para pintar mostrava vários corações. Começou a pintar, quieta, concentrada, cada coração de um vermelho vivo. De repente, pegou o lápis preto e rabiscou tudo. Levantou-se da mesa rapidamente e deixou o recinto. Perguntei a cuidadora: “Porque ela está triste?”. E ela respondeu: “Porque sua filha não veio visitá-la esta semana”. Em uma interpretação terapêutica, poderíamos dizer que sua carência afetiva e social e sua solidão, sentimentos que podem gerar uma depressão futura, estavam representadas pela cor preta com a qual cobriu seu testemunho de amor, que não foi correspondido.

Lembro-me também de outro caso interessante. Durante o Curso de Pós-graduação em Psicopedagogia Sistêmica e Neuropsicopedagogia, do qual sou professora nas Faculdades Claretianas, após fazer “seu dever de casa” (criar e pintar sua mandala pessoal), uma aluna escreveu em suas observações:

“Nascemos com uma pequena luz interior e não fazemos ideia do porquê de sua existência. Com o passar do tempo essa luz se expande, brilha mais, brilha um pouco menos e se transforma: muda de tamanho, de forma, de cor… mas ela continua existindo! Nossa maturidade, construída ao longo dos tempos nos permite fazer nossas próprias escolhas. Muitas vezes os obstáculos são muitos e os caminhos nos apontam perigo e atenção diante da vida. A fé nos leva a acreditar que existe o infinito. A esperança nos faz enxergar que tudo pode ser possível. Basta olharmos para dentro de nós e reencontramos aquela pequena luz para começar e recomeçar quantas vezes for preciso. Foi este pensamento que passou por minha cabeça ao fazer a mandala. Acredito que antes de fazê-la não tinha esta reflexão tão clara.”

Quer saber mais?
Conheça as bases da atuação terapêutica da mandala, aliada ao trabalho de autoconhecimento e transformação que os florais proporcionam!
Dia 13/09/2023, uma nova turma do curso: Mandalas e Florais: Facilitando o encontro com o Grande Uno, em 4 encontros de 2 horas cada, online ao vivo via Zoom, às terças-feiras, de 19h30 às 21h30.
Aproveite condição especial para inscrições antecipadas. Vagas limitadas!


Lucy Godoy é  terapeuta floral formada pela Sociedad para el Estudio y Difusión de la Terapia Floral del Dr. Bach de Cataluña (SEDIBAC), facilitadora da formação internacional em florais de Bach da Healingherbs e autora de vários livros.

Contato: godoylucy@hotmail.com

Para o topo